sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Resposta de Sérgio Fausto

Peço desculpas a Sérgio Fausto, que me enviou há duas semanas essa resposta e eu falhei em postá-la.
Mantenho minha posição, e ele a dele.

"Caro Chico,

Vamos por partes. Começo pela sua afirmação de que não é papel do presidente fazer "faxina" na administração pública e, sim, institucionalizar mecanismos de controle e punição da corrupção. Estou de acordo, mas o exemplo do presidente é fundamental para orientar a conduta e fixar os limites do que é moralmente aceitável e inaceitável na condução dos assuntos públicos. Dessa perspectiva, acho bem difícil negar que Lula tenha se portado mal à frente da Presidência da República. Deu proteção política a membros de seu partido e de seu governo envolvidos em casos de corrupção, atribuindo as acusações, respaldas por órgãos independentes do Estado, a supostas conspirações da mídia. Também estou de acordo com sua afirmação de que as políticas de um governo devem expressar as preferencias dos eleitores que o elegeram, e para tanto é totalmente legítimo que haja cargos de confiança preenchidos com quadros político-partidários. Como sabemos, porém, a diferença entre o remédio e o veneno está na dose. No Brasil, são 20 mil cargos de livre nomeação pelo presidente da República, um verdeiro convite ao loteamento do Estado. No governo de Lula, em comparação com o de FHC, o loteamento partidário expandiu-se, alcançando bancos públicos, agências regulatórias e empesas estatais. Não é uma opinião, são fatos largamente documentados e conhecidos. A menos que se queira tapar o sol com a peneira e acreditar que tudo o que se lê, ouve e vê na imprensa é produto de uma conspiração da "mídia burguesa". Dois fatores levaram ao maior loteamento: a inserção de numerosos quadros políticos do PT na máquina pública, em geral para benefício da própria organização partidária, e a construção de uma aliança política de muitos partidos, que se explica menos pela necessidade de assegurar maioria parlamentar suficiente para aprovar medidas do interesse do governo e mais pela voracidade em cooptar interesses e blindar o esquema de poder dominante. O aumento da corrupção é uma decorrência quase natural desse processo. Claro que a corrupção não é prática nova nas relações entre o Estado, partidos e empresas estatais e privadas no Brasil. Nos últimos anos, porém, ela adquiriu uma organização sistemática, com um novo ator assumindo o protagonismo do processo. Lula tinha (e tem) autoridade política para definir limites à voracidade de seu próprio partido. Mas preferiu fazer vistas grossas, beneficiar-se politicamente e usar de seu carisma e capacidade de comunicação para lançar areia nos olhos da platéia.

Um abraço, Sergio"