quinta-feira, 23 de junho de 2011

Veja e as festas universitárias

Asco
Sempre é bom lembrar o BoiMate
Me sinto mal de escrever sobre a Veja, toda vez que tento ler alguma matéria na revista ou no site eu costumo parar nas primeiras linhas por um sentimento de asco. A estupidez e o preconceito pingam de suas tintas. Devido a todo esse asco, costumo simplesmente ignorar a revista. Infelizmente, trata-se de uma revista de grande circulação, não é incomum que uma matéria estúpida pare na minha frente e eu não tenha escolha ao confrontá-la.
"Notícia"(?)
Não foi diferente dessa vez, a Veja foi a uma festa na UnB e tirou fotos de uso de maconha dentro da universidade. Eu me pergunto se isso é realmente notícia, alguém não sabia que maconha é utilizada na universidade? Sempre tento fazer esse exercício: O que é realmente notícia nessa matéria? O que ela traz de novo? Que provas ela traz para corroborar sua tese? Que interesses estão contemplados na notícia? A matéria está contextualizada?
Primeiramente, não há notícia na matéria. Ou melhor, a única notícia da matéria é que a Veja mandou um repórter até a UnB para uma festa. A única coisa que ele encontrou, o crime, foi o uso de maconha durante a festa. Alguém que não saiba que universitários usam drogas, especialmente durante festas universitárias, não deve conhecer nada sobre drogas, juventude, festas ou universidade (vixe, talvez isso seja notícia para o público da Veja).

Drogas e Rendimento Acadêmico
Esse cara aí usou drogas.
Péssimo rendimento acadêmico?
É muita hipocrisia falar que não há drogas na universidade, e achar que o uso de drogas leva necessariamente a um péssimo rendimento acadêmico é ridículo. Ao menos dois presidentes dos Estados Unidos confessaram o uso de drogas durante a universidade, se chegar a presidência dos Estados Unidos e seus $30.000 por mês (além de $100.000 para viagens, $50.000 para despesas e $19.000 para entretenimento ao ano) não é ter sucesso a palavra "sucesso" precisa ser redefinida.
Festas na Universidade Pública
A questão de festas na universidade é muito complexa, muitos bons professores, como Antônio Carlos Lessa, opinam que a universidade não deveria ter festas em seu interior. Eu compreendo a posição, festas podem sujar a universidade; não são em si atividades acadêmicas; abrigam em si um grande potencial para confusões de todos os tipo; são, no caso das universidades públicas, uma subvenção estatal à diversão de um grupo; e podem, sim causar muitos problemas. Creio, porém, que se tratam de problemas advindos do abuso de um direito, não do direito em si.
Direito a festa (uhuuuu)
Direito a festa? Bem, eu compreendo o direito a festa incluso integralmente no direito a reunião. Art. 5° XVI da constituição:
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
Não consigo vislumbrar outra interpretação, o que é uma festa se não uma reunião pacífica, sem armas? O que é a universidade pública se não um local aberto ao público? O processo de autorização de que fala a matéria é recente, fruto de uma outra estupidez da velha imprensa. Em minha opinião tal procedimento é vedado explicitamente pela constituição, mas com certeza cabe uma discussão maior sobre o tema. Passada essa autorização a Veja agora pretende que as festas não ocorram, ou que ocorram somente da forma que eles considerarem razoável.
Abusos em Festas
Voltando ao abuso do direito, o que a universidade deveria fazer é organizar uma forma de responsabilizar aqueles que excederem os seus direitos. Quem sujar a universidade deve limpá-la. Igualmente para quem quebrar, se envolver em brigas ou de qualquer outra forma trazer prejuízo à universidade. Todos devem ser responsabilizados por seus atos na forma da lei.
Regular as Festas
Também seria justo que a universidade pública tivesse uma forma de auxiliar os festeiros em serviços de segurança e brigadista. São serviços essenciais a uma festa de tamanho razoável, pessoas podem precisar de auxílio médico e a humanidade continua precisando da força para se comportar de forma civilizada. Não digo que a universidade pública deva incorrer em custos pela festa, mas facilitar o contato e talvez verificar que serviços são mais baratos e bons seria uma excelente forma de diminuir os abusos e permitir as festas.
Ausência de Aluguel
Quanto a subvenção a um grupo, é um tema muito difícil de ser atacado. A subvenção que existe é a de local, festas de outros grupos costumam ter que pagar aluguel. Penso que se a festa visa lucro não há como defender a inexistência do aluguel, se a festa é somente para farrear. Se a festa visa lucro mas é para uma causa (grupo de estudos, centro acadêmico, empresa júnior, escritório modelo, etc) a universidade deve analisar a causa para saber se deve ou não subvencioná-la com uma diminuição ou isenção do aluguel. Quanto a festas não visem lucro, não há que se falar em subvenção. O direito a reunião é garantia constitucional.
Cabe-nos lembrar que esse dinheiro advindo do aluguel pode ser usado de diversas formas úteis para a universidade pública.

Babaquice da Veja
Por fim, permitam-me voltar a "reportagem" da Veja.
a Universidade de Brasília (UnB) tem se notabilizado por episódios pouco honrosos nos últimos tempos: irregularidades administrativas, trotes violentos e teses acadêmicas controversas - foi lá, por exemplo, que surgiu a teoria de que não é preciso diferenciar o certo do errado no ensino da Língua Portuguesa. (grifos meus)
Trotes violentos não são exclusividade da UnB. A UnB aparenta ter trotes menos violentos e menos frequentes que a maior parte das universidades do país. Irregularidades administrativas que foram combatidas duramente, por vezes de maneiras equivocadas, por toda a comunidade acadêmica. E quanto a teses acadêmicas controversas, essa frase vai merecer um post inteiro, mas eu adianto: ainda bem que são controversas. Se não houver controvérsia em uma discussão é por atestar a morte intelectual de seus debatedores e da própria discussão.

Comentem e divulguem.
ps: A gramática descritiva também não é exlusividade e tampouco foi inventada na UnB.

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